Exu Pede Passagem
terça-feira, 13 de novembro de 2018
quinta-feira, 24 de julho de 2014
Considerando o mesmo assunto
(este texto visava uma argumentação filosófica as questões colocadas pelo juiz que declarou que a Umbanda e o Candomblé não são religiões - a polêmica já terminou mas acho útil acrescentar essas linhas)
Primeiramente, eu faço uma abordagem filosófica acerca do que é religião. Donde se originam as religiões e a enorme dependência do homo sapiens em relação a elas. Baseio-me na obra do filósofo francês Edgar Morin.
As religiões constam em todas as culturas de massa. Religião, mito e magia foram acontecendo no imaginário humano, na medida em que ele precisava de respostas as suas questões existenciais, principalmente quanto a irrupção consciente da morte, como fato consumado.
E rituais fúnebres, assim como quaisquer outras celebrações (aniversários, bodas, colação de grau, formaturas) todas servem para dar sentido as nossas vidas, tão carentes do mesmo.
2) A afirmação de que a Umbanda e o Candomblé não possuem um "Manual de Bordo", como por exemplo, a Bíblia (para os cristãos) também não é justa porquê são religiões que provem de culturas sem palavra escrita. Existem os Itan-Ifá, mas as tradições, rezas e rituais são baseados na oralidade, nos segredos (awô) passados de pais para filhos e na ancestralidade.
3) Existe hierarquia sim. Os Babalorixás e Iyalorixás, ou Pai de Santo ou Mãe de Santo. Os Filhos e Filhas de Santo, os Ogãs, as Equedes, o Pai Pequeno e a Mãe Pequena, além de muitos outros cargos e funções.
No Candomblé, existe sim, um deus supremo. Chama-se Olorum, nome que pode desdobrar-se em outros. Olodunmare, Obatalá, Oxalá. Na Umbanda, onde houve predomínio da língua Bantu, o deus supremo chama-se Zambi.
Primeiramente, eu faço uma abordagem filosófica acerca do que é religião. Donde se originam as religiões e a enorme dependência do homo sapiens em relação a elas. Baseio-me na obra do filósofo francês Edgar Morin.
As religiões constam em todas as culturas de massa. Religião, mito e magia foram acontecendo no imaginário humano, na medida em que ele precisava de respostas as suas questões existenciais, principalmente quanto a irrupção consciente da morte, como fato consumado.
E rituais fúnebres, assim como quaisquer outras celebrações (aniversários, bodas, colação de grau, formaturas) todas servem para dar sentido as nossas vidas, tão carentes do mesmo.
2) A afirmação de que a Umbanda e o Candomblé não possuem um "Manual de Bordo", como por exemplo, a Bíblia (para os cristãos) também não é justa porquê são religiões que provem de culturas sem palavra escrita. Existem os Itan-Ifá, mas as tradições, rezas e rituais são baseados na oralidade, nos segredos (awô) passados de pais para filhos e na ancestralidade.
3) Existe hierarquia sim. Os Babalorixás e Iyalorixás, ou Pai de Santo ou Mãe de Santo. Os Filhos e Filhas de Santo, os Ogãs, as Equedes, o Pai Pequeno e a Mãe Pequena, além de muitos outros cargos e funções.
No Candomblé, existe sim, um deus supremo. Chama-se Olorum, nome que pode desdobrar-se em outros. Olodunmare, Obatalá, Oxalá. Na Umbanda, onde houve predomínio da língua Bantu, o deus supremo chama-se Zambi.
quinta-feira, 3 de julho de 2014
Considerações gerais sobre o livro " Exu Pede Passagem"
Considerações
gerais sobre o livro " Exu Pede Passagem"
Mara
Martins Passos
Bem,
agora que estou às vésperas de apresentar a 2a edição (ou 2a
impressão revisada), gostaria de mudar um pouco o ângulo através
do qual escrevi as primeiras linhas do meu blog.
Vou
fazer a apresentação da segunda impressão do livro no NEINB -
"Núcleo de estudos interdisciplinares do negro brasileiro",
na Universidade de São Paulo.
Depois
que defendi meu Mestrado na PUC, resolvi que tentaria lançar o livro
no mercado com, praticamente, o mesmo conteúdo da tese. Sempre
acreditei que seria muito importante que muitas pessoas lessem meu
livro.
Só
agora, depois de alguns anos, é que consigo enxergar com muita
clareza, o tamanho do vespeiro aonde eu resolvi colocar a mão.
Começou, assim, com alguns comentários desairosos Só agora consigo
ver, aterrada, as incríveis proporções que um preconceito pode
assumir..Um preconceito, isto é, uma ideia preconcebida e sem
nenhuma justificativa, jamais poderia ter imaginado.
Exu
é um belíssimo exemplo. Bem, tentei desfazer uma injustiça, tão
grave quanto condenar à morte uma pessoa por um crime que ela não
cometeu. A injustiça com a qual foi tratado este orixá do Panteão
Africano, foi enorme, assustadora, brutal.
Começou
(comigo) por parte de onde eu menos esperava: minha própria família.
Não meu marido, meus filhos, que são pessoas cultas e bem
informadas, mas meus pais, meu irmão. E depois, quantos conhecidos
sorriram ao ver o livro, mas jamais o leram.
Meu
sobrinho Alex, quando perguntou a meu irmão qual era o nome do livro
que eu havia escrito, este, desdenhosamente, respondeu: "Sei lá.
Acho que é "Vai pro diabo que te carregue". Minha mãe,
passou a quase não falar comigo. E, pasmem! – um dia dei de
presente a meu pai um quadro com a litografia de minha avó (já
falecida), mãe de meu pai. Soube, depois da morte de minha mãe, que
ela, praticamente, quase obrigara meu pai a quebrar o quadro e
jogá-lo fora, porque, tendo vindo de mim, só podia ser uma coisa
"enfeitiçada".
Imagine,
alguém que escreve um livro sobre Exu! Que horror! Até onde um
preconceito pode ir! Claro que nem todas as pessoas são assim. As
mais bem informadas, as que conhecem o assunto ao menos um pouco, as
mais esclarecidas digamos assim, aceitaram, leram o livro todo e,
para compensar, ouvi muitos elogios também.
As
religiões – todas elas, são construções antropológicas. Como
concluiu, de maneira absolutamente adequada, o Professor Edgar Morin
(antropólogo, sociólogo e filósofo francês, que completou 90 anos
no último 8 de julho de 2011):
"A
novidade que o homo sapiens traz ao mundo não está, portanto,
(conforme se havia pensado), na sociedade, na técnica, na lógica,
na cultura. Encontra-se, por outro lado, naquilo que até o presente
fora considerado epifenomenal ou ridiculamente considerado indício
de espiritualidade: na sepultura e na pintura.
Os
mais antigos túmulos que conhecemos são neandertalenses. Essas
sepulturas nos indicam bem mais e algo muito diferente do que um
simples enterro para proteger os vivos da decomposição (o cadáver
poderia ser, para esse efeito, abandonado ao longo ou lançado no
mar). O morto encontra-se numa posição fetal (o que sugere uma
crença na sua renascença), por vezes até deitado numa cama de
flores, conforme o indicam os vestígios de pólen numa sepultura
neandertalense descoberta no Iraque (o que sugere uma cerimônia
fúnebre); os
ossos,
por vezes, estão pincelados""com ocre (o que sugere um
funeral após consumo canibalesco, seja um segundo funeral após
decomposição do cadáver);há pedras que protegem os despojos e,
mais tarde, armas e alimento acompanham o morto (o que sugere a
sobrevivência do morto sob forma de espectro corporal com as mesmas
necessidades dos vivos.)
A
hipótese de que houvesse crença na renascença do morto ou
sobrevivência sob forma de espectro corporal (duplo) vem do fato de
que essas são as duas crenças fundamentais da humanidade no que se
refere ao além, de que elas se encontram, seja misturadas, seja
separadas, em todas as sociedades arcaicas conhecidas e de que
constituem as bases de todas as crenças ulteriores (Morin,1972).
A
hipótese das cerimônias funerárias também é conhecida por sua
universalidade, sob tais formas, nas populações arcaicas.
Aquilo
que a sepultura neandertalense testemunha não é somente uma
irrupção da morte na vida humana, mas também modificações
antropológicas que permitiram e provocaram essa irrupção.
1)
Uma nova consciência.
Para
começar, incontestavelmente, um progresso do conhecimento objetivo.
A morte não só; e reconhecida como fato, conforme a reconhecem os
animais (que, além do mais, já são capazes de se "fazerem de
mortos" para enganar o inimigo), não é somente sentida como
perda, desaparecimento, lesão irreparável (coisas que o macaco, o
elefante, o cão, o pássaro podem sentir), a morte também é
concebida como transformação de um estado em outro estado.
Além
disso, a morte, provavelmente, já é pensada, não, é certo, como
uma "lei" da natureza, mas sim como uma sujeição quase
inevitável que pesa sobre todos os vivos.
De
todos os modos, seja pela presença dos mortos ou pela presença da
morte, fora de seu acontecimento imediato, já se pode detectar no
homem de Neandertal um pensamento que não é totalmente investido no
ato presente, o que significa que se pode detectar a presença do
tempo no seio da consciência. A associação de uma consciência de
transformações, de uma consciência de sujeições, de uma
consciência do tempo já indica no sapiens a emergência de um grau
mais complexo e de uma nova qualidade do conhecimento consciente.
2.
O Mito e a Magia
Com
a consciência realista da transformação, a crença de que essa
transformação resulta numa outra vida na qual se mantém a
identidade do transformado (renascimento ou sobrevivência do
"duplo") indica-nos que o imaginário irrompe na percepção
do real e que o mito irrompe na visão do mundo. A partir de então,
ambos passariam a ser, ao mesmo tempo, os produtos e os co-
produtores do destino humano.
Ao
mesmo tempo em que a sepultura nos assinala a presença e a força do
mito, os funerais, na realidade, são ritos que contribuem para
operar a passagem para a outra vida de modo conveniente, isto é,
protegendo os vivos da irritação do morto (de onde, talvez, já o
culto dos mortos) e da decomposição da morte (de onde, talvez, já
o luto que isola os parentes do defunto). Assim, é todo um aparelho
mitológico mágico que emerge no sapiens e se encontra mobilizado
para enfrentar a morte.
3.
Brecha Antropológica
Tudo
nos indica, portanto, que a consciência da morte que emerge no
sapiens é constituída pela interação de uma consciência objetiva
que reconhece a mortalidade e de uma consciência subjetiva que
afirma senão a imortalidade, pelo menos uma trans mortalidade. Os
ritos da morte exprimem, reabsorvem e exorcizam, ao mesmo tempo, um
trauma que provoca a ideia de aniquilamento. Os funerais – e isto
em todas as sociedades sapientais conhecidas – traduzem, ao mesmo
tempo, uma crise e uma ultrapassagem desa crise, por um lado, a
dilaceração e a angústia, por outro lado, a esperança e a
consolação. Tudo nos indica, por conseguinte, que o homo sapiens é
atingido pela morte como se por uma catástrofe irremediável, que
ele vai levar em si uma ansiedade específica, a angústia ou o
horror da morte, que a presença da morte se torna um problema vivo,
isto é, que afeta sua vida. tudo nos indica, igualmente, que esse
homem não só recusa essa morte, mas também que a rejeita, que a
vence e que a soluciona no mito e na magia.
Ora,
o que é profundo e fundamental não é apenas a coexistência dessas
duas consciências,' é sim, sua união turva numa dupla consciência;
ainda que a combinação entre essas duas consciências seja muito
variável segundo os indivíduos e as sociedades (bem como a
impregnação da vida pela morte, nenhuma anula verdadeiramente a
outra e tudo se passa como se o homem fosse um simulador sincero com
respeito a si próprio, um histérico segundo a antiga definição
clínica`, transformando em sintomas objetivos aquilo que provém de
sua perturbação subjetiva." (Edgar Morin, 1972, Zahar
Editores. Rio de Janeiro)...."com o sapiens esboça-se, pois, a
dualidade do indivíduo e do objeto, elo inseparável, ruptura
intransponível, que, depois, de mil maneiras, todas as religiões e
filosofias tentariam transpor ou aprofundar". (Morin, 1972, O
Enigma do Homem).
Se
prestarmos bastante atenção a este texto do Prof. Morin,
deduziremos então que, muito provavelmente, toda e qualquer
construção religiosa advém do fato de que o homo sapiens não
aceita, de forma alguma, a morte, como fato consumado. Claro que esta
declaração é sujeita a polêmicas, certamente muitos não
concordarão com ela. Mas eu gostaria de aproveitar a brecha, para
dizer que eu mesma, Mara, não pretendo de forma alguma, ser a “dona”
da Verdade, no seu sentido mais abrangente e filosófico. Eu não
sei, nem poderia saber, qual é a verdade que rege o mundo. Para mim,
as duas versões podem – ou não – ser verdadeiras. Tanto é
possível que nós não sejamos quase nada, isto é, um grão de
areia dentro da imensidão do Universo, e que, após a morte não
haverá nenhuma espécie de outra vida, como também é possível que
não seja assim. É possível – por que não? – que exista algo
que neste mundo não podemos ver com nossos olhos mortais. Que exista
outro tipo de vida, reencarnação, paraíso, universos paralelos,
qualquer coisa. Acredito que ninguém pode afirmar nada. Nem que não
existe nem que existe. Mesmo porque, ninguém, até agora, não
voltou para contar. A não ser entre os espíritas Kardecistas ou os
umbandistas, que acreditam que os espíritos de pessoas já mortas,
possam voltar, seja incorporando-se no corpo de alguém vivo, seja
através da psicofonia ou psicografia. Acho pouco provável, mas pode
ser. Quem sou eu para saber?
Bem,
portanto, o que eu gostaria de deixar claro aos leitores é que eu
não tenho uma religião específica (embora meu inconsciente seja
católico), mas ao mesmo tempo considero o estudo das religiões algo
extremamente fascinante do ponto de vista antropológico.
Não
existe, no mundo, nenhuma cultura, nenhum agrupamento de seres
humanos, que não possua uma religião. Todas possuem. O que, de
certa forma, confirma a tese de Morin. Ninguém aceita a morte como o
fim de tudo. E nem poderíamos, não? São as religiões que
proporcionam às pessoas um significado para a vida. Que dão algum
sentido ao que quer que seja. Afinal, vivendo num mundo com tanta
biodiversidade, vendo coisas tão lindas e ao mesmo tempo outras, tão
cruéis, nascendo sem nenhum mapa de bordo no bolso, sem nenhum
“manual de instruções”, ao menos uma bula, um pequeno “Guia
Fácil” – aliás nascemos sem nenhuma roupa, portanto sem
possibilidade de bolsos, é natural que precisemos de algo que nos
ensine, que oriente, que nos diga o que é correto ou não, nos diga
que existem deuses, anjos, divindades, fadas, elfos, ou então um
único Deus (no caso das religiões monoteístas) que nos ajudam, nos
protegem, nos guardem um lugarzinho no além (de preferência bem
localizado), e também um belo Manual de Instruções. Este pode ser
a Bíblia, o Alcorão, o Torah, os livros dos Upanixades e dos Vedas,
o livro sagrado do Budismo, o Cânon Pali. Ou, no caso das culturas
sem escrita, de conselhos e explicações dos antepassados sobre como
é ou o porque disto ou daquilo. Não faltam histórias, lindas,
mitos – e por outro lado explicações científicas, teorias de
físicos e astrônomos – para nos explicarem tudo o que nos rodeia
e, principalmente, para explicar quem somos, donde viemos e para onde
vamos, se é que vamos para algum lugar.
Eu
quis colocar este prólogo – na falta de um termo mais adequado –
para que os leitores possam entender a enorme relatividade existente
entre as religiões, como também entre nossos conceitos éticos,
morais e filosóficos.
Cada
cultura, cada agrupamento de pessoas, possui sua própria religião e
seus próprios códigos. E não é difícil deduzir que, cada grupo,
com sua religião, considere que esta é a melhor e mais verdadeira
do que todas as outras. Não vou citar exemplos, primeiro para não
ferir a sensibilidade de ninguém e segundo, porque tenho a certeza
de que todos vocês conhecem milhares de exemplos.
O
Brasil foi “descoberto” no ano de 1500. Aqui nas Américas,
viviam milhares de etnias indígenas, cada qual com suas crenças,
hábitos e religiões. Detenhamo-nos no Brasil. Ele foi colonizado
pelos portugueses, que eram brancos e cristãos, ou melhor dizendo,
católicos. Estes, obviamente, acreditavam que sua religião era a
única verdadeira e que as dos índios daqui, não passavam de
tolices e superstições, coisas de “selvagens”. Então começou
uma intensa tentativa de impor aos índios a religião cristã. “O
que aconteceu então, a partir de 1500, foi a formação de várias
religiões, combinando crenças e costumes dos vários povos
ameríndios com os dos brancos portugueses, católicos e,
posteriormente, com os vários povos africanos trazidos para o Brasil
como escravos, entre os séculos XVI e XIX” (Gaspar, 1997: sem
paginação).
Confirmando
com Eneida Duarte Gaspar, “o povo que mais contribuiu para a
formação religiosa brasileira foi, evidentemente, o português.
Trouxe, não o Cristianismo Protestante – como os ingleses e
holandeses, por exemplo – mas uma forma típica de Catolicismo
Popular que se revelou a posteriori, fundamental na construção do
imaginário religioso brasileiro. Durante sua expansão através da
Europa, o Cristianismo absorveu parte das crenças e costumes dos
povos das diversas regiões onde passava. Assim, além de já trazer
em sua bagagem muitos valores greco-romanos, o Catolicismo
enriqueceu-se com crenças de outros povos, latinos ou orientais,
anglo-saxões, germânicos ou eslavos.
Durante
a Idade Média solidificou-se um Catolicismo Popular, trazido depois
pelos jesuítas para o Brasil. A romanização veio bem mais tarde
mas... aquele Catolicismo Popular, do Brasil Colônia, já estava por
demais enraizado para ceder a qualquer tentativa de romanização. Os
mártires e santos canonizados, assumiram contornos diferentes com
características de alguns deuses e espíritos protetores de certos
locais da Europa, o que depois propiciou no Brasil para que houvesse
um aproveitamento, por parte dos negros e dos índios, na composição
de uma religião popular muito rica e complexa.” (Gaspar, 1997: sem
paginação).
Sendo
assim, em face de grande dificuldade encontrada pelo português no
sentido de escravizar os índios, começou então por volta do século
XVI, o tráfico de escravos africanos para o Brasil.
Ora,
dadas estas condições todas, podemos dizer o seguinte: num regime
escravocrata, é permitido que as pessoas que possuem dinheiro possam
comprar os escravos ou escravas que desejarem. Mas estas pessoas
compram apenas os corpos dos escravos, nunca suas almas, suas
personalidades, suas crenças e convicções. Para os escravos
africanos era muito mais difícil sobreviver aqui do que para os
índios. Afinal os índios estavam em suas terras, falavam suas
línguas e não queriam de modo algum submeter-se aos brancos.
Para
os escravos africanos, a situação era bem mais difícil. Não
tinham outra alternativa a não ser obedecer às ordens de seus
senhores. Estavam longe de sua terra natal, de seu meio
biogeográfico, não conheciam carrinhos para fugir, não tinham
muitas vezes sequer com quem conversar. Não havia saída. O jeito
era submeter-se. Mas havia algo que era muito seu e muito precioso:
suas crenças religiosas.
Embora
houvesse perseguição, por parte dos brancos, também nesse sentido,
eles sempre davam um jeito de continuar venerando seus orixás, seja
através da sincretização, seja através de rituais escondidos, mas
muitas vezes, tolerados.
O
que eu gostaria aqui de deixar muito claro é que as religiões,
todas, nada mais são do que uma interpretação do mundo que nos
cerca. Em filosofia, usa-se o termo apreensão fenomênica de mundo.
O homo sapiens possuía uma enorme necessidade de decifrar o mundo.
Sem isso, a vida não teria significado. Foram então construindo-se
as religiões, cada uma à sua maneira, de acordo com as regiões do
planeta, de acordo com crenças preexistentes, de acordo com o clima,
enfim de acordo com uma miríade de fatos que as influenciaram.
Resumindo
um pouco, podemos dizer que: a grande maioria das religiões
interpretam fundamentalmente o mundo de acordo com uma ética, uma
apreensão que divide, cinde o mundo em dois pilares: o Bem e o Mal.
Na verdade, se pensarmos bem, é uma maneira mais fácil de dividir o
mundo, a vida e todas as coisas que ela contém. Simples. O que é
bom, provém de Deus (ou deuses bons) e o que é mau, provém dos
demônios (ou dos maus demônios).
Todavia,
há – ao menos uma – exceção: a religião dos orixás. Os
orixás são divindades dialéticas. Carregam em si os dois opostos:
o Bem e o Mal. Talvez no Iaoísmo seja assim também. O que, se
refletirmos bem, é algo muito mais complicado. Dividir o mundo em
Bem e Mal, ou em Deus e o Diabo, é muito mais fácil. Mas decifrá-lo
dentro de uma filosofia dialética é algo evidentemente muito mais
difícil e requer um grau muito maior de sofisticação. Esta
explicação pouquíssimas pessoas conhecem; estes conhecimentos me
foram confiados por José Tadeu de Paula Ribas, o Falagbe Esutumbimi,
já falecido. Grande e profundo estudioso do assunto, e ele traduziu
muitos e longos trechos dos Itan-Ifá e conseguiu chegar a esta
brilhante conclusão. Assim como também a antropóloga argentina
Juana Elbein dos Santos, autora do livro “Os Nagô e a Morte”,
tese de doutorado que defendeu na Sorboune.
Não
é fácil – nem o foi para mim – entender o que é dialética.
Precisei ler livros a respeito. Agora eu entendo, mas eu creio que,
para os leitores, em vez de tentar explicar profundamente o que é
dialética, eu sugeriria que lessem, em meu livro o texto que
coloquei dos antropólogos René Girard “A Violência e o Sagrado”,
aonde ele narra sucintamente que, antes da erradicação da varíola,
claro, em algumas aldeias africanas observou-se o seguinte:
Quando
havia, em alguma aldeia, uma epidemia de varíola (que pode ser uma
doença mortal), colocavam todas as pessoas contaminadas em uma
grande casa, para que elas não transmitissem a doença a outros.
Elas ficavam ali, alimentavam-se ali e ali ficavam, até sararem ou
até morrerem. Então, vejam que coisa interessante: colocavam, para
tomar conta do portão principal – para que ninguém fugisse – um
indivíduo que – já tivera e não morrera.
Por
quê? Porque este indivíduo assumira parte da essência do deus, uma
vez que percorrera suas duas polaridades: a da doença e a da cura.
Então, tal indivíduo era o mais indicado porque, tendo percorrido
as duas polaridades, ele assumira parta da essência do deus.
Bem,
creio que com este exemplo fica um pouco mais fácil entender o que é
dialética. De modo que eu lhes pergunto: numa religião onde todas
as divindades são dialéticas, será que pode existir o Diabo? Claro
que não! Não existe ninguém que encarne só o mal numa religião
como uma apreensão fenomênica do mundo tão dialética.
Como
Exu é o primeiro a ser chamado no Xirê, por ser o mais importante,
os escravos, ao fazerem seus rituais, chamavam-no e logo começavam a
entrar em transe. Para os brancos, que não tinham ideia do que era
transe, aquilo parecia mais um “frenesi endemoninhado”, pois
interpretavam o transe dos orixás, de acordo com seus próprios
códigos de decifração religiosa de mundo. Quer dizer, a confusão
já começou aí.
Outro
fato colaborou também para que se agravasse essa “confusão”. Os
negros escravizados desejavam muito poder voltar à África. Como Exu
é, entre outras coisas, o orixá dos caminhos, pediam a ele, em
orações, que ele os ajudasse a voltar para lá. Isto era bastante
comum e os brancos perceberam isso. Notavam a insistência com que
eles invocavam o nome Esù e o fervor com que o faziam. Então
começaram a espalhar, entre os escravos, de que Esù era um dos
nomes de Satanás e que eles não estavam invocando um Deus e sim, o
próprio demônio.
Naturalmente,
existiram outros diversos fatores que contribuíram para que esta
ideia se concretasse, como por exemplo, Exu ser representado às
vezes, como um deus fálico. Sim, porque ele rege também a
sexualidade que, na religião dos orixás, é vista como algo
absolutamente natural, diferente, pois, dos valores católicos, que
enfatizam a castidade e meio que deixam “passar” a ideia de que o
sexo é, de certa forma, algo ligado ao demônio.
Segundo
Tadeu de Paula Ribas, Esù já está presente na primeira
encruzilhada de nossa vida: o útero materno. É Exu quem decide para
que lado o espermatozoide (que vai dar origem a outro ser) vai.
Estas
e certamente outras ideias, foram concretando a ligação – Exu x
Diabo. Se, aos europeus, a religião dos orixás já era malvista –
coisa de selvagens, de pessoas ignorantes – o fato de ter um
“demônio” tão presente (nas orações, cantigas e rituais)
ajudava bastante.
Para
explicar resumidamente, lembremo-nos de que, no começo do século
passado a Umbanda foi codificada. Era socialmente muito necessário
que assim fosse. E a Umbanda – que se desenvolveu a partir do
centro-leste do Brasil, aonde houve maior predomínio de escravos
Bantu – é muito mais permeável do que o Candomblé, ela assimilou
(a profundidade disto é imensa) muitos dos valores cristãos e do
espiritismo Kardecista, que se formou “em cima” do cristianismo.
A Umbanda está hoje bem mais difundida do que o Candomblé, atinge
um número maior de pessoas, talvez também porque, ela é, de certa
forma, “semelhante” ao Catolicismo, em vários aspectos.
Ela
cinde, sim, o mundo em Bem e Mal. Os guias e orixás da “direita”
não tem quase mais nada a ver com os orixás africanos. Iansã virou
Santa Bárbara, Ogum virou São Jorge e assim por diante. Tanto que
vou falar “Ogum me proteja” ou “São Jorge me proteja” é
absolutamente a mesma coisa. As linhas de guias que a Umbanda também
incorporou, também segue o mesmo caminho. Os pretos velhos, as
crianças, os caboclos – todos têm um aspecto de espíritos
essencialmente “bons”.
Agora,
aonde fica o “outro lado” do mundo espiritual? Os demônios, os
criminosos, as prostitutas, as mulheres de “má vida”? Ora, na
esquerda, claro. Bem, explico isso detalhadamente em meu livro. Mas a
esquerda é o lado da Umbanda totalmente ligado ao Mal, ao
conflituoso, ao desprezível. São desprezíveis, mas também são
cultuados. Em todo Centro de Umbanda existe – do lado de fora do
templo – uma pequena “casinha” onde ficam os guias da esquerda.
Lá são colocados imagens, velas pretas ou vermelhas, aguardente,
cigarros e até mesmo flores. Em alguns faz-se (como na antiga
religião dos orixás), no começo de cada sessão, uma referência,
uma louvação, a Exu.
Mas,
de qualquer forma, eles ficam sempre do “lado de fora”, porque
são marginais, porque guardam em seu âmago, algo essencialmente
“mau”.
Contudo,
conforme explico no livro, é comum haver, em alguns centros, uma
certa confusão. Em alguns, existem os guias “traçados” com a
esquerda. Ou, existe também, a Umbandomblé. Isto é perfeitamente
compreensível, pois a religião dos orixás percorreu caminhos
muitos difíceis.
Todavia,
hoje elas estão estabelecidas. Não há mais proibições, como em
anos atrás; no Brasil existe aquilo a que chamamos “liberdade
religiosa”. Muitas pessoas hoje frequentam Centros de Umbanda ou
até mesmo de Candomblé.
Hoje,
ano de 2011, já não são tão malvistos. Centros de Candomblé mais
preservados – como por exemplo, o de Mãe Sílvia de Oxalá – são
muito raros.
Sei,
como disse no começo, que meti minha mão num “vespeiro”.
Todavia, não me arrependo disto, de forma alguma. As vespas picaram
minha mão, mas não doeu tanto assim. Tentei ajudar aos
afrodescendentes a compreender melhor a religião de seus
antepassados. Tentei também dar um exemplo “brasileiro” daquilo
que Carl Jung chamou de Sombra. Exu foi um bom exemplo. Gostaria
muito que os analistas junguianos lessem o livro. Modéstia e
preconceitos a parte, acho que o livro ficou muito bom.
Se
prestarmos bastante atenção a este texto do Prof. Morin,
deduziremos então que, muito provavelmente, toda e qualquer
construção religiosa advém do fato de que o homo sapiens não
aceita, de forma alguma, a morte, como fato consumado. Claro que esta
declaração é sujeita a polêmicas, certamente muitos não
concordarão com ela. Mas eu gostaria de aproveitar a brecha, para
dizer que eu mesma, Mara, não pretendo de forma alguma, ser a “dona”
da Verdade, no seu sentido mais abrangente e filosófico. Eu não
sei, nem poderia saber, qual é a verdade que rege o mundo. Para mim,
as duas versões podem – ou não – ser verdadeiras. Tanto é
possível que nós não sejamos quase nada, isto é, um grão de
areia dentro da imensidão do Universo, e que, após a morte não
haverá nenhuma espécie de outra vida, como também é possível que
não seja assim. É possível – por que não? – que exista algo
que neste mundo não podemos ver com nossos olhos mortais. Que exista
outro tipo de vida, reencarnação, paraíso, universos paralelos,
qualquer coisa. Acredito que ninguém pode afirmar nada. Nem que não
existe nem que existe. Mesmo porque, ninguém, até agora, não
voltou para contar. A não ser entre os espíritas Kardecistas ou os
umbandistas, que acreditam que os espíritos de pessoas já mortas,
possam voltar, seja incorporando-se no corpo de alguém vivo, seja
através da psicofonia ou psicografia. Acho pouco provável, mas pode
ser. Quem sou eu para saber?
Resumindo
um pouco, podemos dizer que: a grande maioria das religiões
interpretam fundamentalmente o mundo de acordo com uma ética, uma
apreensão que divide, cinde o mundo em dois pilares: o Bem e o Mal.
Na verdade, se pensarmos bem, é uma maneira mais fácil de dividir o
mundo, a vida e todas as coisas que ela contém. Simples. O que é
bom, provém de Deus (ou deuses bons) e o que é mau, provém dos
demônios (ou dos maus demônios).
Todavia,
há – ao menos uma – exceção: a religião dos orixás. Os
orixás são divindades dialéticas. Carregam em si os dois opostos:
o Bem e o Mal. Talvez no Iaoísmo seja assim também. O que, se
refletirmos bem, é algo muito mais complicado. Dividir o mundo em
Bem e Mal, ou em Deus e o Diabo, é muito mais fácil. Mas decifrá-lo
dentro de uma filosofia dialética é algo evidentemente muito mais
difícil e requer um grau muito maior de sofisticação. Esta
explicação pouquíssimas pessoas conhecem; estes conhecimentos me
foram confiados por José Tadeu de Paula Ribas, o Falagbe Esutumbimi,
já falecido. Grande e profundo estudioso do assunto, e ele traduziu
muitos e longos trechos dos Itan-Ifá e conseguiu chegar a esta
brilhante conclusão. Assim como também a antropóloga argentina
Juana Elbein dos Santos, autora do livro “Os Nagô e a Morte”,
tese de doutorado que defendeu na Sorboune.
Não
é fácil – nem o foi para mim – entender o que é dialética.
Precisei ler livros a respeito. Agora eu entendo, mas eu creio que,
para os leitores, em vez de tentar explicar profundamente o que é
dialética, eu sugeriria que lessem, em meu livro o texto que
coloquei dos antropólogos René Girard “A Violência e o Sagrado”,
aonde ele narra sucintamente que, antes da erradicação da varíola,
claro, em algumas aldeias africanas observou-se o seguinte: quando
havia, em alguma aldeia, uma epidemia de varíola (que pode ser uma
doença mortal), colocavam todas as pessoas contaminadas em uma
grande casa, para que elas não transmitissem a doença a outros.
Elas ficavam ali, alimentavam-se ali e ali ficavam, até sararem ou
até morrerem. Então, vejam que coisa interessante: colocavam, para
tomar conta do portão principal – para que ninguém fugisse – um
indivíduo que – já tivera e não morrera.
Por
quê? Porque este indivíduo assumira parte da essência do deus, uma
vez que percorrera suas duas polaridades: a da doença e a da cura.
Então, tal indivíduo era o mais indicado porque, tendo percorrido
as duas polaridades, ele assumira parta da essência do deus.
Bem,
creio que com este exemplo fica um pouco mais fácil entender o que é
dialética. De modo que eu lhes pergunto: numa religião onde todas
as divindades são dialéticas, será que pode existir o Diabo? Claro
que não! Não existe ninguém que encarne só o mal numa religião
como uma apreensão sistêmica de mundo tão dialética.
Como
Exu é o primeiro a ser chamado no Xirê, por ser o mais importante,
os escravos, ao fazerem seus rituais, chamavam-no e logo começavam a
entrar em transe. Para os brancos, que não tinham ideia do que era
transe, aquilo parecia mais um “frenesi endemoninhado”, pois
interpretavam o transe dos orixás, de acordo com seus próprios
códigos de decifração religiosa de mundo. Quer dizer, a confusão
já começou aí.
Outro
fato colaborou também para que se agravasse essa “confusão”. Os
negros escravizados desejavam muito poder voltar à África. Como Exu
é, entre outras coisas, o orixá dos caminhos, pediam a ele, em
orações, que ele os ajudasse a voltar para lá. Isto era bastante
comum e os brancos perceberam isso. Notavam a insistência com que
eles invocavam o nome Esù e o fervor com que o faziam. Então
começaram a espalhar, entre os escravos, de que Esù era um dos
nomes de Satanás e que eles não estavam invocando um Deus e sim, o
próprio demônio. Naturalmente, existiram outros diversos fatores
que contribuíram para que esta ideia se concretasse, como por
exemplo, Exu ser representado às vezes, como um deus fálico. Sim,
porque ele rege também a sexualidade que, na religião dos orixás,
é vista como algo absolutamente natural, diferente, pois, dos
valores católicos, que enfatizam a castidade e meio que deixam
“passar” a ideia de que o sexo é, de certa forma, algo ligado ao
demônio.
Segundo
Tadeu de Paula Ribas, Esù já está presente na primeira
encruzilhada de nossa vida: o útero materno. É Exu quem decide para
que lado o espermatozoide (que vai dar origem a outro ser) vai.
Estas
e certamente outras ideias, foram concretando a ligação – Exu x
Diabo. Se, aos europeus, a religião dos orixás já era malvista –
coisa de selvagens, de pessoas ignorantes – o fato de ter um
“demônio” tão presente (nas orações, cantigas e rituais)
ajudava bastante.
Para
explicar resumidamente, lembremo-nos de que, no começo do século
passado a Umbanda foi codificada. Era socialmente muito necessário
que assim fosse. E a Umbanda – que se desenvolveu a partir do
centro-leste do Brasil, aonde houve maior predomínio de escravos
Bantu – é muito mais permeável do que o Candomblé, ela assimilou
(a profundidade disto é imensa) muitos dos valores cristãos e do
espiritismo Kardecista, que se formou “em cima” do cristianismo.
A Umbanda está hoje bem mais difundida do que o Candomblé, atinge
um número maior de pessoas, talvez também porque, ela é, de certa
forma, “semelhante” ao Catolicismo, em vários aspectos. Ela
cinde, sim, o mundo em Bem e Mal. Os guias e orixás da “direita”
não tem quase mais nada a ver com os orixás africanos. Iansã virou
Santa Bárbara, Ogum virou São Jorge e assim por diante. Tanto que
vou falar “Ogum me proteja” ou “São Jorge me proteja” é
absolutamente a mesma coisa. As linhas de guias que a Umbanda também
incorporou, também segue o mesmo caminho. Os pretos velhos, as
crianças, os caboclos – todos têm um aspecto de espíritos
essencialmente “bons”. Agora, aonde fica o “outro lado” do
mundo espiritual? Os demônios, os criminosos, as prostitutas, as
mulheres de “má vida”? Ora, na esquerda, claro. Bem, explico
isso detalhadamente em meu livro. Mas a esquerda é o lado da Umbanda
totalmente ligado ao Mal, ao conflituoso, ao desprezível. São
desprezíveis, mas também são cultuados. Em todo Centro de Umbanda
existe – do lado de fora do templo – uma pequena “casinha”
onde ficam os guias da esquerda. Lá são colocados imagens, velas
pretas ou vermelhas, aguardente, cigarros e até mesmo flores. Em
alguns faz-se (como na antiga religião dos orixás), no começo de
cada sessão, uma referência, uma louvação, a Exu.
Mas,
de qualquer forma, eles ficam sempre do “lado de fora”, porque
são marginais, porque guardam em seu âmago, algo essencialmente
“mau”.
Contudo,
conforme explico no livro, é comum haver, em alguns centros, uma
certa confusão.
Em
alguns, existem os guias “traçados” com a esquerda. Ou, existe
também, a Umbandomblé. Isto é perfeitamente compreensível, pois a
religião dos orixás percorreu caminhos muitos difíceis.
Todavia,
hoje elas estão estabelecidas. Não há mais proibições, como em
anos atrás; no Brasil existe aquilo a que chamamos “liberdade
religiosa”. Muitas pessoas hoje frequentam Centros de Umbanda ou
até mesmo de Candomblé.
Hoje,
ano de 2011, já não são tão malvistos. Centros de Candomblé mais
preservados – como por exemplo, o de Mãe Sílvia de Oxalá – são
muito raros.
Sei,
como disse no começo, que meti minha mão num “vespeiro”.
Todavia, não me arrependo disto, de forma alguma. As vespas picaram
minha mão, mas não doeu tanto assim. Tentei ajudar aos
afrodescendentes a compreender melhor a religião de seus
antepassados. Tentei também dar um exemplo “brasileiro” daquilo
que Carl Jung chamou de Sombra. Exu foi um bom exemplo. Gostaria
muito que os analistas junguianos lessem o livro. Modéstia e
preconceitos a parte, acho que o livro ficou muito bom.
quinta-feira, 26 de junho de 2014
Livro no CCSP
Aqueles que quiserem o livro emprestado ou apenas dar uma olhada, há exemplar disponível na biblioteca Sérgio Miliet, no Centro Cultural São Paulo.
Para encontrar o livro no acervo, escolha o URL http://bibliotecacircula.prefeitura.sp.gov.br/pesquisa/ depois escolha Pesquisa Avançada, aí quando aparece a página, vc seleciona
Assunto: religião
Autor: Mara Martins
Título: Exú
Com esses três itens fica mais fácil a pesquisa.
Escrevo isso porquê dentro da biblioteca do Centro Cultural São Paulo, o acesso Internet é complicado. Aqueles que tiverem interesse em ter um exemplar, consultem os outros posts desse blog.
Para encontrar o livro no acervo, escolha o URL http://bibliotecacircula.prefeitura.sp.gov.br/pesquisa/ depois escolha Pesquisa Avançada, aí quando aparece a página, vc seleciona
Assunto: religião
Autor: Mara Martins
Título: Exú
Com esses três itens fica mais fácil a pesquisa.
Escrevo isso porquê dentro da biblioteca do Centro Cultural São Paulo, o acesso Internet é complicado. Aqueles que tiverem interesse em ter um exemplar, consultem os outros posts desse blog.
quinta-feira, 19 de junho de 2014
Pequena Entrevista
sobre religiões
afrodescendentes
Larissa Martins da Costa Passos Moreira
1o jornalismo D
Entrevista
Professor Celso Unzelte – Jornalismo Básico
Livro promete quebrar preconceitos
Mestre em ciências da religião, Mara de Sá busca mostrar
em livro o Candomblé e a Umbanda verdadeiramente,
com a intenção de acabar com os preconceitos de uma
sociedade de maioria cristã.
Mara de Sá Martins da Costa Passos é formada em psicologia e é
mestre em ciências da religião pela Pontifícia Universidade Católica
de São Paulo (PUC-SP) e em 2003 lançou o livro Exu Pede Passagem
pela Editora Terceira Margem. O livro, que já está na segunda edição,
promete desmistificar religiões afrodescendentes como Candomblé e
Umbanda para aqueles dispostos a aprender. Modesta, rejeitando ser
chamada de senhora, a escritora fala de seu objetivo humano e nos
dá uma introdução sobre o assunto.
Larissa Moreira: O que te levou a se interessar por religiões
afrodescendentes?
Mara de Sá: Desde que eu era criança, ficava revoltada com pessoas
chamando negros de forma pejorativa. Nessa época ainda não
tínhamos a palavra “afrodescendente”. Eu sabia que esse palavreado
fazia mal a eles. Queria fazer alguma coisa para ajudar a autoestima
dessas pessoas. Aí fiz minha graduação em psicologia e conseguia
entender que para nós, brancos, já é difícil construir uma autoestima,
como não deveria ser para um afrodescendente? No meu primeiro
ano eu tive aulas de antropologia e a minha professora conseguiu
fazer com que eu entendesse o racismo na sociedade.
LM: Da onde você acredita que vem a maior parte dos
preconceitos contra as religiões africanas?
MS: Bem, acredito que venha do fato do Brasil ter sido colonizado por
católicos. Os negros tinham uma “apreensão fenomênica de mundo”
diferente dos cristãos, ou seja, era mais difícil para eles assimilarem
os valores ensinados pelos padres, eles eram muito diferentes. A
maneira que encontraram de continuar “vivendo suas vidas” era com
os rituais, a chamada religião dos orixás.
LM: Qual a principal diferença dessas religiões para o
cristianismo?
MS: Para os cristãos, assim como para os judeus e os mulçumanos,
o mundo é dividido entre bem e mal. O Candomblé faz uma divisão
dialética, eles interpretam o mundo todo como algo que tanto pode
ser bom quanto pode ser mal. Por exemplo, o mesmo orixá que é
da alegria é o da tristeza. Já a Umbanda é originada no espiritismo
kardecista, mas leva no âmago muitos elementos cristãos. É como se
ela tivesse um pé no cristianismo e outro no candomblé.
LM: Qual é a sua opinião sobre a declaração do deputado de
que religiões afrodescendentes não podem realmente ser
consideradas religiões?
MS: [Risada] Ele fez uma declaração que mostra que ele não sabe
nada sobre o assunto. Foi de muita ignorância. Para começar,
ambas as religiões tem deuses supremos. No candomblé é Olorum
e na Umbanda é Zambi, podendo assumir nomes diferentes. Sobre
o “manual” que o deputado comenta, é verdade. Eles realmente
não têm palavra escrita, a tradição é oral, de pai para filho. Em
alguns lugares da África, a escrita é mal vista, porque a religião é
segredo. Ele também acredita que não há hierarquia. Claro que há.
No candomblé, é babalorixá e iyalorixá e na umbanda é pai e mãe de
santo. Além disso, na roda de santos, sempre há uma ordem para as
pessoas serem chamadas.
LM: Quais os pontos principais de seu livro?
MS: Além de falar sobre Exu, acredito que meu livro é capaz de
demostrar o que é religião e a importância que ela tem para os seres
humanos. Vejo o meu livro como capaz de desmitificar as religiões
afrodescendentes. Meu livro é uma maneira de quebrar preconceitos.
LM: Vinda de uma família de predominância católica, você
sofreu represálias quando começou a escrever o livro?
MS: Recebi sim. Minha mãe mesmo começou a achar que eu era
feiticeira. Mas eu não liguei.
LM: E da onde vem o título, Exu Pede Passagem?
MS: A expressão “Pede passagem” quer dizer licença para mostrar
quem é. Eu achei a expressão bonita. Acho que é isso que tentei
fazer com o livro, mostrar quem o Exu realmente é.
quinta-feira, 29 de maio de 2014
Opinião sobre o Juiz
Eu gostaria de dizer aqui, algumas palavras sobre o fato lamentável, a meu ver, sobre a decisão do juiz carioca, que disse que a Umbanda e o Candomblé não seriam propriamente religiões, pois não possuem um código de leis, ou um manual ou algo parecido, como a Bíblia ou o Alcorão, por exemplo. Por não acreditarem num Deus ou numa divindade suprema e por não possuírem um texto escrito com dogmas, rituais, leis morais, crenças e orações. O que ele disse na semana passada é algo completamente sem cabimento e demonstra que ele até pode entender muito bem de Direito, Código Civil, leis, mas não tem a menor ideia de outras áreas do conhecimento humano como Filosofia, Antropologia e até mesmo do significado das religiões e de suas prováveis origens, dentro do que poderíamos chamar, por falta de outras palavras, de Evolução Darwiniana.
Lancei um livro em 2003 , cujo nome, "Exu Pede Passagem" onde esclareço todas as dúvidas sobre as questões que o juiz colocou na arena da discussão religiosa. É como um mergulho profundo nas águas de uma crença religiosa da qual você quer observar todos os possíveis aspectos, sob todos os ângulos possíveis.
Lancei um livro em 2003 , cujo nome, "Exu Pede Passagem" onde esclareço todas as dúvidas sobre as questões que o juiz colocou na arena da discussão religiosa. É como um mergulho profundo nas águas de uma crença religiosa da qual você quer observar todos os possíveis aspectos, sob todos os ângulos possíveis.
quinta-feira, 22 de maio de 2014
MPF recorre de decisão em que juiz alegou que umbanda e candomblé não são religiões
MPF recorre de decisão em que juiz alegou que umbanda e candomblé não são religiões
http://www.sul21.com.br/jornal/mpf-recorre-de-decisao-em-que-juiz-alegou-que-umbanda-e-candomble-nao-sao-religioes/
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